terça-feira, 19 de agosto de 2014

Primeiro contato

   Na época dos primeiros contatos (no final dos anos 70), os Matis eram estimados em várias centenas, realidade essa que foi mudando ao longo dos anos. A partir do primeiro contato com o homem branco, várias epidemias se espalharam pela região, afetando assim um grande número de indígenas, especialmente crianças e idosos. Em 1983 os Matis não passavam de 87. Nessa época o grupo estava divido em quatro clãs e como a Funai tinha uma dificuldade muito grande de atendimento, foi pedido que eles se agrupassem em apenas uma aldeiaPassado alguns anos, as atividades culturais começaram a ressurgir, assim como as atividades produtivas e houve um aumento populacional significativo. E atualmente 390 índios Matis (Funasa 2010) compõem o grupo e assim retomam de modo tímido o antigo padrão de ocupação territorial.

      


Língua

      No cotidiano da aldeia se usa somente a língua materna. No entanto hoje quase todos os homens entre 17 e 35 anos sabem falar um pouco o português, e isso permite que façam suas transações comerciais nas idas à cidade. Algumas mulheres também conseguem se comunicar em português.
   A língua Matis pertence a família linguística Pano. 
 A família linguística Pano é a maior dentre os menores agrupamentos genéticos no Brasil. Há presença de grupos 
falantes desta família também no Peru e na Bolívia.



                                 Localização


     A área ocupada pelos Matis é uma faixa que se estende do Médio rio Ituí, passando pelo alto Coari até o médio rio Branco. Essa área situa-se dentro dos limites da terra indígena Vale do Javari.
   A Terra Indígena Vale do Javari é a segunda maior área indígena do Brasil e está situada na região do alto Solimões, no sudoeste do Amazonas, próxima a fronteira do Brasil com o Peru. Abrange áreas drenadas pelos rios Javari, Curucá, Ituí, Itacoaí e Quixito, além dos altos cursos dos rios Jutaí e Jandiatuba, compreendendo terras dos municípios brasileiros de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença e Jutaí.
  Esta área foi reconhecida como Terra Indígena “para o usufruto exclusivo das populações indígenas que nela habitam” pelo governo brasileiro em 1999, demarcada 
fisicamente em 2000 e homologada pelo presidente da república em maio de 2001 e compreende uma área  equivalente á 83.000 quilômetros quadrados.  






                    

                    Atividades produtivas

   A caça, com o arco, com a zarabatana e com a espingarda é a atividade masculina mais valorizada entre os Matis.
   A agricultura entre os Matis é feita a partir de cultivos itinerantes produzidos sobre áreas de queimada. As roças são porções de floresta derrubadas, queimadas e cultivadas que vão sendo progressivamente abandonadas á medida que seus rendimentos diminuem. 
   Os produtos essenciais dessas plantações são a macaxeira, a banana, a pupunha e o milho, alimento cujo consumo é fundamentalmente ritual. 
   Os principais peixes apanhados são o cará, o tamboatá, a traíra, pirarucu, a piranha, entre outros. Também apanham tartarugas e tracajás e seus ovos. Os principais produtos de coleta são o patauá, o buriti, o puna(fruta), o cacau e o cupu. 
  Os Matis são exímios caçadores de queixada (porco do mato), macacos, caititu, mutum e diversos pássaros.



                          

                       
                          Ornamentos faciais
    
   O contato com o homem branco perturbou inegavelmente
a relação dos Matis com seus ornamentos. Alguns foram caindo em desuso, enquanto novos elementos foram sendo incorporados. 
   Os mais velhos se queixavam dos jovens que se pareciam com as mulheres e aos não-índios, pois antigamente os adultos usavam todo tipo de ornamentos. Nos últimos anos são raros aqueles que não abandonaram seu uso. Mas isso não quer dizer que os Matis perderam a memória e a cultura.                     

   Os jovens matis sofrem sua primeira perfuração no lóbulo da orelha a partir da idade de quatro ou cinco anos.

   Alguns anos depois da perfuração da orelha, aproximadamente aos oito anos, perfura-se o nariz para introduzir o primeiro par de demush ("vibrissa", pelos que crescem na face de uma mamífero), agulhas finas e pretas feitas das fibras de uma palmeira. 
   A etapa seguinte consiste na abertura do septo nasal para inserir o pingente chamado detashkete.
   Em seguida, no tempo da puberdade, chega o momento de furar o lábio inferior. As mulheres começam a usar o kwiot (enfeite labial), de madeira clara, na época dos primeiros relacionamentos sexuais. Os chefes de família geralmente usam mais o enfeite labial feito de madeira negra.
   Dois ou três anos depois do primeiro kwiot, algumas vezes antes, seguindo a periodicidade dos rituais, chega o tempo dos primeiros musha, as "tatuagens".
   Entre os 16 e 20 anos, plenamente adultos, os homens furam o rosto, na área da covinha que separa a região maxilar e as bochechas.
   No decorrer da segunda cerimônia de tatuagem, cada jovem é tatuado com uma série de linhas paralelas(de seis a oito) na bochecha esquerda, e depois na direita.
   A aquisição gradual dos ornamentos vem pontuar, literalmente, as etapas do amadurecimento individual, segundo uma ordem pré-estabelecida. Não há nada de surpreendente com relação a isso, já que os Matis possuem uma visão bastante linear da existência - a qual é vista como uma sucessão de etapas pré-ordenadas, uma evolução progressiva em direção a uma velhice altamente idealizada. 

   




    

                                     

                                Rituais    

   Com o crescimento populacional, práticas e rituais abandonados após as mortes dos velhos e xamãs, principais detentores do saber tradicional, foram retomadas. Como por exemplo o rito de tatuagem - marca irrefutável de sua identidade étnica - E este exemplo contrasta com o saudosismo do grupo, em 1995, quando diziam que a tatuagem tinha desaparecido devido á proximidade dos não-índios e á morte dos mais velhos, já que esse ritual é considerado cheio de perigos sobrenaturais que somente os últimos conheciam. 

   Ainda podemos citar o ritual realizado com os garotos para que eles mostrem que podem participar das caçadas com os outros homens. 

   Primeiro, os garotos recebem veneno diretamente nos olhos, para supostamente melhorar a sua visão e aguçar os sentidos. Depois, eles são espancados e recebem chicotadas, para depois receber a inoculação do veneno de um sapo venenoso da região. A tribo acredita que o poderoso veneno do animal aumenta a força e a resistência, o que só acontece depois que o participante do ritual sofre com fortes enjoos, vômitos e diarreia. Quando os garotos passam por esta terrível seqüência de testes, são considerados aptos a participar das caçadas da tribo. 


   
         

    Índios brasileiros e a Constituição de 1988

     A Constituição do Brasil, de 1988, assegurou aos povos 
indígenas o respeito á sua organização social, costumes,línguas, crenças e tradições, e reconheceu o direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupam. 
Artigo 231 da Constituição de 88:

"São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens."
   Destaque-se, que o texto em vigor eleva também à categoria constitucional o próprio conceito de terras indígenas, que assim se define, no parágrafo 1o deste mesmo artigo:
  "São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições."
   A Constituição de 1988 também reconhece aos índios:
  • O usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos existentes nas terras indígenas;
  • Que o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos ai os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com a autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada à participação nos resultados da lavra;
  • A garantia da inalienabilidade e indisponibilidade das terras indígenas e a imprescritibilidade dos direitos sobre elas; - a proibição da remoção dos índios das suas terras;
  • A nulidade de todos os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras indígenas;
  • A legitimidade dos índios, suas comunidades e organizações para ingressarem em juízo em defesa de seus direitos e interesses.


A política indigenista da nova Constituição  boliviana

   Na Bolívia os índios representam 60% da população do país e, desde a época da colonização, constituem extrato social discriminado e desprovido de direitos que efetivamente lhes garantam a possibilidade de conviver em estado de igualdade com o restante dos bolivianos.
   A nova Constituição (25 de janeiro de 2009) surgiu como o mais ousado projeto de redução de desigualdades já visto no país. O texto reconhece, já em seu preâmbulo, a diversidade cultural boliviana: “povoamos a Mãe Terra com rostos diferentes e compreendemos desde então a pluralidade vigente de todas as coisas e nossa diversidade como seres e culturas”. Em seguida, reafirma o passado de discriminação: com diversidade “formamos nosso povo e jamais compreendemos o racismo, mesmo que o tenhamos sofrido desde os tempos da colônia”. O documento, visto como um todo, representa a tentativa de reforçar a auto aceitação de diferenças numa sociedade extremamente diversa.
   A Bolívia, com a nova Constituição, torna-se um “Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário”.
  As medidas adotadas pelo novo texto constitucional boliviano criaram expectativas diversas quanto às consequências futuras das inovações promulgadas, sejam elas positivas ou negativas. Dentre os aspectos positivos, o maior destaque advém da possibilidade de diminuição da desigualdade entre indígenas e não indígenas.


Índios Matis andam quatro dias a pé para celebrar Jogos dos Povos Indígenas em Cuiabá


   Eles não são atletas profissionais e não estão competindo nos Jogos dos Povos Indígenas de Cuiabá mas, para celebrar o evento, os índios Matis fizeram uma verdadeira maratona. Eles saíram a pé do Vale do Javari, no estado do Amazonas, na fronteira com o Peru, e percorreram, durante quatro dias, quase 300 km até o aeroporto da cidade amazonense de Tabatinga, onde pegaram o voo com destino a Cuiabá.



   Os Matis chamam a atenção no meio da multidão que se aglomera na região do Jardim Botânico de Cuiabá pelas suas características físicas, enfeites corporais de acordo com suas crenças e culturas, que são os traços que os diferenciam de outras etnias.

                        
               Resistência da língua indígena

    A herança indígena forma a cultura nacional com hábitos como banho diário, uso da rede de descanso, instrumentos musicais, artesanato, técnicas de cerâmica e métodos de pesca e plantio, além de alimentos como mandioca, milho, guaraná, palmito e tapioca.
    Na saúde, vem dos índios o emprego de vegetais e animais como fonte de cura natural, prática que se tornou alvo de pesquisadores estrangeiros e de contrabando biológico. No folclore, os índios deram ao Brasil seres fantásticos como o curupira, o saci-pererê, o boitatá e a iara.
Mas a mais nítida influência está no vocabulário. Palavras indígenas como canoa, jacaré, carioca, pipoca, jaguar, caxumba, abacaxi, caipira e pereba são apenas algumas das muitas incorporadas à língua portuguesa.
    A contribuição se comprova também nos nomes de lugares, como Goiás, Sergipe, Paraná, Paraíba, Cuiabá, Ipanema e Iguaçu. E há ainda os nomes próprios: Iracema, Jandira, Cauã, Tainá.
Mas o antropólogo Mendes avisa que muitas dessas fontes culturais linguísticas estão em situação de risco.

— Pelo último censo, 23% das línguas indígenas (63 de 274) têm menos de dez falantes. Ou seja: são virtualmente extintas. Se o último falante morre, morre com ele uma construção de centenas ou até milhares de anos — disse.

                  
                       Economia Matis

   Com base em um convívio de 12 meses com os índios Matis, a antropóloga Barbara Maisonnave Arisi defendeu a tese de doutorado “A dádiva, a sovinice e a beleza – Economia da Cultura Matis, Vale do Javari, Amazônia”. Desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal de Santa Catarina, a pesquisa, financiada pela UFSC, Capes e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Brasil Plural, teve como foco a “economia da cultura”, mostrando como os índios estabelecem relações econômicas com estrangeiros. 
   Segundo Barbara, os Matis têm relações de troca, apropriação e roubo de poderes e saberes com animais da floresta, com seres desencorporados (potências a quem eles chamam de tsussin) e com diversos estrangeiros (jornalistas, turistas e também pesquisadores). 
   "Os mesmos homens e mulheres que me contaram de quando viviam na floresta, sem os brancos, como cortavam as contas de seus colares de murumuru com os dentes, pois não tinham facas ou limas, explicam como hoje ganham dinheiro com turistas alemães e cineastas sul coreanos”, conta, fazendo uma comparação entre seu tema de pesquisa do mestrado e o atual do   doutorado. 
   A antropóloga não considera os Matis como índios de “recente contato”. Para provar isso, um dos tópicos de sua tese diz respeito às economias que os Matis têm com os estrangeiros turistas e documentaristas, e índios de comunidades vizinhas no Peru e na Colômbia, além do   Brasil.
   Ao longo dos anos, os Matis conviveram com antropólogos, jornalistas e documentaristas da mídia nacional internacional – como a Globo, a TV Cultura, a BBC e a National Geographic. Em outubro de 2009 os Matis ajudaram a encontrar um avião das Forças Armadas Brasileiras (FAB), com uma equipe de vacinação, que havia caído na região. Graças a eles, foram resgatados nove dos 11 passageiros.
   Para o doutorado, Bárbara tentou acompanhar as transações na “economia da cultura”. Em sua tese, escreveu então sobre a relação que os Matis têm com os animais (especialmente nas festas de bichos ou “nëix tanek”, em língua matis). Como ocorreu com outros povos amazônicos, muitas “tecnologias” foram aprendidas com os bichos, como a agricultura e as tatuagens faciais.

   “Os Matis correspondem à imagem que os ocidentais têm de povo exótico”, conta. “Eles têm sabido usar disso para aumentar sua vitalidade social, construir suas malocas novas, fazer suas festas, seguir tatuando seus jovens.”    “Os Matis querem conhecer mais, saber mais sobre o mundo não-indígena, controlar mais nossas tecnologias. As tecnologias que apreenderam dos animais e os poderes e saberes que aprendem dos tsussin os ajudam a se fortalecer, embora elas apresentem também riscos. Assim, os Matis também consideram que a economia com os gringos pode trazer-lhes mais tecnologias, saberes e conhecimentos que os farão crescer e serem mais fortes e mais numerosos. Claro que isso tudo está relacionado a transformações e mudanças”, explica Barbara. “Ainda bem, pois para os povos amazônicos, apenas no mundo dos mortos é possível permanecer igual. Tudo que é vivo está em permanente movimento”, conclui. 

2 comentários:

  1. Bom mas deveriam colocar o artesanato deles tirando iso esta bom
    Tirei varas coisas para um trabalho

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